terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Enquete para as donzelas católicas

Amadas a paz de Cristo! Quanto tempo...

Fiz estas perguntas pra colher suas opiniões! Colaborem! Depois postarei os resultados... Podem mandar suas respostas como comentário aqui abaixo.

Deus abençoe
Carina Caetano



1) Para uma mulher católica, quais atitudes fazem com que um homem seja reconhecido como um católico de fato e não apenas de aparência?
 
2) Qual(is) virtude(s) mais tem faltado nos homens católicos de hoje?
 
3) Qual(is) virtude(s) mais tem surgido entre eles?
 
4) Cite 3 (três) qualidades que um homem católico deve ter e 3 (três) defeitos que ele não pode ter.
 
5) Qual pode ser a causa por tantas moças católicas se queixarem de quem tem sido difícil encontrar o rapaz "certo" na Igreja?
 
6) Como uma "donzela católica" deseja de ser abordada por um rapaz quando esse quiser demonstrar alguma afeição a ela?
 
7) Quais atributos positivos geralmente encontrados em homens que não estão na Igreja têm faltado aos rapazes católicos?


8) A aparência física tem quantos por % ao escolher um rapaz para se namorar? É verdade que vale muito mais as virtudes do que aparências?

9) Quais virtudes você acredita que os homens devem reconhecer em uma mulher?

10) Qual tipo de comportamento você considera abominável em um homem?


quarta-feira, 19 de março de 2014

Mortalium Animos e o Ecumenismo no Magistério recente


Mortalium Animos e o Ecumenismo no Magistério recente



Por Padre Douglas Pinheiro - Padre Diocesano - Osasco/SP - Membro da Equipe de Serviço Encristus


Muitas pessoas encontram, por vezes, mais ocasião de eloquência nas entrelinhas dos textos do que nos grandes discursos de fato. Como bons católicos, não podemos defender tal coisa. Dizemos que certamente as entrelinhas e os gestos têm significado. Em se tratando da Igreja Católica, contudo, quem quer permanecer católico não deve sustentar que estes tenham um significado contrário à Doutrina Católica. E, se é verdade que por vezes as entrelinhas pesam mais do que as linhas, aquelas nunca poderão desdizer estas.
Vamos às entrelinhas. Uma série de recentes debates sobre a pertinência ou não da prática do ecumenismo por parte dos católicos trouxe à tona menções da Mortalium Animos de Pio XI. Em contrapartida, encontramos um número sem fim de documentos pontifícios endossando e incentivando a prática ecumênica, sobretudo após o Vaticano II. A Igreja teria mudado de opinião? Alterou sua doutrina? Está se contradizendo? Pio XI era menos papa que os sucessores que afirmaram o oposto de sua encíclica? De forma alguma! Embora pareça complicada a conciliação entre todos estes documentos, um olhar profícuo sobre o contexto histórico de inscrição de cada um nos revela tranquilamente seus respectivos teores:
1. Em Edimburgo, na Escócia, denominações protestantes da Europa , historicamente (mais precisamente, no início do século XX) passaram a desejar uma unidade visível entre si;
2. este desejo de unidade visível é em si bom;
3. historicamente, tal desejo foi buscado concretamente por meio de associações entre diversas comunidades (daqui surgiu o Conselho Mundial de Igrejas). Todavia, as posturas dessas associações eram totalmente descompromissadas com a ideia de verdade objetiva quando, na realidade, para nós cristãos isso é algo fundamental. Sobre isso discorreu Bento XVI em toda a Caritas in Veritati;
4. como parece óbvio, a desejada unidade visível nunca se concretizou por estes meios associativos;
5. como era igualmente óbvio, a Igreja fulminou este entendimento irenista de “unidade” sem Verdade (em particular, na Mortalium Animos);
6. historicamente, a Igreja ofereceu a Sua resposta a este desejo de unidade bem intencionado, mas explicitamente mal orientado por seus protagonistas;
7. Esta proposta da Igreja é e sempre foi que eles encontrem a unidade cum Petro et sub Petro. Sempre enxergando o ministério petrino, como disse João II na Ut Unum Sint 89-96, como um serviço à unidade e à confirmação da Fé cristã; e não como uma potestade opressora como em épocas da história se soou ;
8. historicamente, embora signifiquem coisas diversas (e até contraditórias), as coisas expostas em 3. e em 6. acima foram chamadas ao longo da história pelo nome de “Ecumenismo”. Mas tais iniciativas tomadas até então jamais foram participadas por católicos, pois não podemos coadunar com uma unidade que renuncia a soberania da verdade revelada em Jesus. Renunciar a Verdade em nome da paz é um falso irenismo (condenado também pela Unitatis Redintegratio no número 11) a que poderíamos chamar de um “ecumenismo herético”;
Bob (protestante, camisa listrada) e Dan (católico, camisa amarela): Membros da Comunidade Alleluia (Georgia, EUA): lá 700 pessoas vivem no mesmo bairro, com 12 denominações religiosas diferentes. Se unem para adorar a Deus e fazem escalas de adoração 24h por dia, 7 dias por semana. Que benção de pessoas!

9. por conta disso, houve historicamente falsificadores da Doutrina Católica que, de boa ou má fé, confundiram os dois conceitos e disseram: 
a) ou que o “ecumenismo herético” (ponto 3) é na verdade uma coisa boa e a Igreja, após o perceber, reviu a Sua opinião; 
b) ou que a Igreja passou a ensinar o “ecumenismo herético” e, por conta disso, deixou de ser Igreja, ou o Concílio deixou de ser Concílio, ou o Magistério deixou de ser Magistério, ou a teoria que se deseje colocar aqui;
10. com a confusão que perdura até os dias de hoje, fica por vezes difícil distinguir entre o “ecumenismo herético” e o legítimo ecumenismo católico (pontos 6. e 7.).
Depois de exposto este esquema, volto às entrelinhas. Muitas confusões se dão por se alegar um certo “silêncio” com o qual a Igreja trata os textos dos Papas anteriores ao Concílio do Vaticano II. Em particular, a encíclica Mortalium Animos não se encontrava online em português, existindo na internet somente em sites como o da Associação Montfort ou disponíveis em versões não-oficiais de sites de compartilhamento de arquivos.
Hoje, porém, a Mortalium Animos está disponível em português no site do Vaticano. E esta tradução é recente, pois eu próprio me recordo de que até a bem pouco tempo atrás não era possível encontrá-la. Há, portanto, esforços da Santa Sé no sentido de tornar acessíveis aos católicos documentos do início do século XX que, até bem pouco tempo atrás, não estavam disponíveis, ao menos não em todos os principais idiomas. E, se isto está sendo feito, é porque estes documentos permanecem válidos, são importantes e devem ser conhecidos. Esta é uma excelente resposta aos que diziam ter a Igreja “mudado a sua Doutrina”. É uma ótima forma de afirmar a continuidade do ensinamento da Igreja.
Aliás, de todas as encíclicas de Pio XI, apenas cinco estão atualmente traduzidas para o português: a Divini Illius Magistri (31 de dezembro de 1929), a Divini Redemptoris (19 de março de 1937), a Mortalium Animos (6 de janeiro de 1928), a Quadragesimo Anno (15 de maio de 1931), e a Vigilanti cura (29 de junho de 1936). E estas não são “as cinco mais antigas” ou “as cinco mais novas”, nem “as cinco na ordem em que aparecem no site do Vaticano” e nem nada do tipo: o que nos permite acreditar que os primeiros documentos que estão sendo traduzidos são os mais relevantes para os tempos atuais (ou, no mínimo, que certamente são aplicáveis aos tempos atuais). 
Se a Mortalium Animos não foi traduzido nos imediatos anos após o Concílio, crer ter sido justamente para não dar a entender aos fiéis que a Igreja se contradizia. Também por ver que esse texto seria lido em desconexão com o contexto em que Pio XI o redigiu. Lido fora do verdadeiro prisma, ele se torna uma proibição a algo que a Igreja nunca proibiu de fato.
E estas cinco encíclicas já traduzidas anteriormente, por sua vez, tratam respectivamente sobre a educação cristã da juventude, sobre o comunismo ateu, sobre a verdadeira unidade de religião, sobre a restauração e aperfeiçoamento da ordem social (no aniversário da Rerum Novarum) e sobre cultura e meios de comunicação em massa (especificamente o cinema). São todos temas que muitos, mesmo católicos, insistem em considerar “ultrapassados” – e, não obstante, nós católicos que desejamos ser fiéis sempre insistimos em dizer que eram válidos e aplicáveis aos dias correntes. Daí a razão por terem sido traduzidos antes, pois sobre o ecumenismo o conteúdo da Unitatis Redintegratio já dava conta de expressar o que de fato pensa a Igreja sobre o a unidade dos cristãos. Uma leitura precipitada e sem prévia iniciação da Mortualium Animos só geraria confusão conceitual.
Para os católicos não vale a premissa de que a Igreja “diz uma coisa e faz outra” ou que Ela passa “ensinamento tácito” (contrário ao que se dizia antigamente) por meio das coisas que cala. Atualmente (e à primeira vista), o “ecumenismo” está tanto condenado quanto promovido no site do Vaticano. Os inimigos da Igreja, e somente estes, são capazes de dizer que ela é contraditória. Os católicos fiéis, contudo, bem como os honestos intelectualmente, devem se perguntar se ela não está falando de coisas distintas nos dois documentos.


Comentário do Facebook feito também pelo Padre Douglas:  Hum! Meu Deus, pena que tem coisa que pela TV vcs não puderam ver. Pastores foram à Missa, evangélicos entraram na capela do Ssmo para rezar, apreciavam os ícones da Ssma Virgem e do Pantocrator. O Encristus até agora só tem feito os evangélicos admirarem nossa igreja. Esse é o começo do caminho, e não uma lamúria sem fim por causa de uma (e só uma ) imagem que foi tirada (contra minha vontade, claro). Se os irmãos, agarrados à MA, tem outra sugestão para atraí-los, me avisem. Quem sabe eu repense minha pertença ao Encristus! Até lá, me fio na figura acima, isto é, estar junto com estes irmãos. Junto!!! Os documentos só tomam vida com práticas reais e concretas, e não com discursos. Argumentar a eclesiologia? Isso eu sempre soube fazer desde qdo estudei esse tratado. Mas chorar a dor de não ver muitos cristãos na mesma mesa do Calvário? Isso os manuais não ensinam, meus caros. Eu estou falando sobre coração, e não sobre racionalização. Estou falando do teologal, e não do teológico. Um não pode andar sem o outro. Ensinem-nos então, pelo amor de Deus, o verdadeiro ecumenismo já que não temos feito corretamente. Peço em nome do Encristus; peço em nome da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica. Mas nos ensinem FAZENDO, porque de falatório eu já estou cheio por esses dias!Tirar o crucificado foi um erro? SIM, já concordei que SIM. Sobre isso trataremos na próxima reunião de núcleo, já disse!!! Mas será que ninguém viu que ficou o ícone da Virgem? Ficou o Pantocrator? Ficou o SSMO.SACRAMENTO na capela ao lado do local do evento (onde mtos evangélicos entraram e até rezaram? Ficaram as imagens, os rosários, as camisetas nas lojas da chácara da Canção Nova pelas quais todos (católicos e evangélicos) passávamos o tempo todo? Ninguém viu? NÃO, não viram!!!Porque NÃO ESTAVAM LÁ!E muitos não ouviram uma única palestra das que foram televisionadas. Darei um doce se acharem uma única heresia na boca de algum dos pastores que ali falaram. UMA SÓ! Mas ouçam, comprem, baixem sei lá. Chega de precipitações! CHEGA!!! OBS: se os ajuda, os primeiros a perguntarem onde estava o crucificado e pq ele não estava lá na cruz foram os protestantes...passar bem! Espero que reflitam sobre nos estarem colocando no lugar Dele de novo, quando Ele ali morreu para que irmãos não mais se crucificassem uns aos outros. Amas o Santo Sacrifício? Viva-o... Por PadreDouglas Pinheiro

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Parabéns ao meu pai amigo: Padre Douglas Pinheiro



Acordei hoje cedo e orei a Deus pela sua vida. Questionei o Senhor qual o significado que o senhor, padre, tem na minha história. Logo visualizei o Cristo: o Menino Jesus, tão frágil, mas tão cativante, tão sorridente, tão espoleta, tão... criança! São tantas qualidades do Jesus menino que vejo em você, padre. 

Aí vi também o Jesus crescendo, não em todas as etapas, mas em algumas... Jesus entrando no templo, você ordenando na catedral... Um início de uma missão árdua, de um ministério lindo, mas muitas vezes penoso e árduo. Vi em você um Jesus Crucificado, dos próprios pensamentos e idéias, da própria humanidade, nas muitas horas de confissões e atendimentos, no sorriso cansado, na palavra que afaga no momento certo, naquele que entrega tudo de si pelo bem do outro, mesmo ao que menos merece... É este Jesus que vejo no senhor. E um dia, peço a Deus, a graça de vê-lo também no céu, na Jerusalém, reinando com Jesus e Maria, glorioso. Para que lá eu diga: "Olha Jesus. Dá um bom lugar a este servo que te foi fiel, mesmo nas infidelidades humanas. Dá lugar a quem muito te amou no irmão, e te serviu nos homens. Dá lugar a este meu pai espiritual, que por muito lutou. Que me apresentou a ti, como Tu apresentastes a Água viva que emana do teu Coração à samaritana. Dá lugar a ele, que como o Senhor, curou minhas feridas com suas palavras sábias, que vinham sempre do coração de Deus. Dá lugar a este meu pai, que me apresentou a verdadeira devoção a Santíssima Virgem, como meio seguro de salvação em Ti, meu Deus. Honra teu filho, que também foi meu pai, meu amigo, meu irmão".



Não exagero em palavras e nem temo em dizê-las. O senhor, Pe. Douglas, pouco gosta de elogios, eu sei! E por isso poucas vezes os faço. Mas sei que posso fazê-los hoje, no seu aniversário, como forma de oração. Sei que cada palavra de ovação expressa ao senhor, será prontamente elevada como agradecimento a Deus. Se portanto, louvo sua vida, simultaneamente louvo ao Senhor que fez todas essas coisas pelas suas mãos.

Em cada gesto seu, vejo semelhanças no Evangelho. De um homem que se doa pelo bem dos seus! Ah, se eu fosse aqui elencar cada benefício que o senhor trouxe com a sua humilde presença em minha família... O senhor bem sabe que não é exagero e as obras não seriam poucas.

E pensei: como retribuir tudo isso? E a imagem foi a mesma: de Jesus Cristo. Como nos Atos dos Apóstoos (3,6) "Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho te dou". O senhor sabe que pouco tenho a acrescentar... o que mais posso oferecer senão o próprio Cristo que você, um dia, me apresentou em profundidade, pelo mover do Espírito Santo?
O que tenho te dou... Eu sou fraca, humana, falha e um dia perecerei... Cristo é vida, é luz, é caminho. Eu posso te retribuir tudo, te dando o Tudo de Cristo que há em mim: nas minhas orações, na minha dedicação em te ver um padre melhor, no meu ombro amigo e no meu ouvido paciente. E peço a Jesus, encarecidamente, que Ele se encarregue de preencher a sua história sempre mais e de lhe dar o galardão eterno...

Sim, quase ia me esquecendo! Feliz aniversário! Quero poder ver os frutos do seu ministério sacerdotal a cada dia, pra louvar e engrandecer a Deus. Quando vejo o que você é capaz pelo Evangelho, sinto minha alma inflamar por Jesus porque penso: se um homem de carne e sangue prega o Evangelho e vive a caridade com tanta intensidade, quem dirá a misericórdia e a caridade de Jesus pelos seus!

Carinhas de bebês! Uma das fotos mais antigas rsrs

Que o Cristo crucificado que há em você e em mim, possa derramar o seu sangue por nós, em cada missa celebrada por tuas mãos, para que um dia possamos todos participar do Banquete de Vida Eterna. Vida Eterna! É o que desejo e o que almejo sempre te impulsionar para este Céu que o Senhor reservou para nós.

Parabéns, padrinho, pai, amigo, irmão, pastor, padre! Amo sua vida imensamente. Sua benção! Carina Caetano (OBS: Tá chegando nos trintão!!! rsrs)

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Modéstia masculina: comportamento e vestimenta




 "A pureza exige o pudorO pudor é parte integrante da temperança. O pudor preserva a intimidade da pessoa. Designa a recusa de mostrar o que deve ficar oculto. Ordena-se à castidade e comprova-lhe a delicadeza. Orienta os olhares e as atitudes em conformidade com a dignidade das pessoas e com a união que existe entre elas." - Catecismo da Igreja Católica §2521.


Nós, homens, ao lermos textos como o apresentado acima, falando de "pudor", "olhares", "delicadeza", logo pensamos em uma mulher. Isso porquê nosso instinto observador logo nos prega uma peça fazendo-nos crer que aquele ser a quem se observa, a saber, a mulher, é quem unicamente tem o dever de portar-se com tal recato para que nós, então, livres de qualquer regra no que diz respeito à modéstia, possamos evitar uma reação mais maliciosa. Porém, isso não é verdade.

O homem, em sua relação com Deus, encontra no pudor e na modéstia elementos fundamentais para seu avanço na vida de oração como na castidade e na santidade. Um homem que, deixando de atribuir a responsabilidade da modéstia unicamente à mulher, se comporta e se veste adequadamente como um cristão, um servo de Deus, acaba por fazer experiência inimagináveis em seu relacionamento com o Senhor. Isso eu digo por experiência própria.

Por muitos anos eu fui um católico que, para ir à Igreja, se vestia como tantos outros católicos "comuns": uma camisa qualquer (desde que não contivesse mensagens ou figuras inapropriadas), uma calça qualquer, um calçado qualquer. E, para mim, estava tudo certo. "Estou com meu corpo devidamente vestido e pode até ser que sirva de exemplo", pensava. Mas na verdade, eu estava apenas fazendo o básico para não escandalizar. Eu podia fazer mais! E foi justamente isso que um padre amigo meu me fez enxergar. Num dia, enquanto passeávamos, ele começou a explicar a importância e beleza que havia no fato de um homem vestir-se de forma diferente para ir à Igreja, sobretudo quando se trata de ir na Santa Missa. Dizia que, originalmente, o costume de vestir-se bem para a participação no culto sagrado era um costume católico, que infelizmente foi se perdendo com o avanço do "pensamento moderno" e a acomodação por parte de alguns (ou muitos) católicos. Em meio a muitos detalhes e argumentos na conversa, basicamente o que me chamou atenção foi o fato de que "os homens deveriam vestir-se de modo especial para ir à Missa justamente para mostrar que aquele acontecimento no qual iriam participar está acima de qualquer fato, ocasião e acontecimento do cotidiano. É um momento único!"





Realmente é a pura verdade! Se nos preparamos tanto para irmos a uma lanchonete com os amigos, para ir a um aniversário, a um casamento, quanto não devemos estar bem apresentáveis para participarmos da Santa Missa?! A partir de então, comecei a ir à Missa vestido como merece a ocasião.

Como dizia Santo Agostinho: "À graça pressupõe a natureza", e foi exatamente isso que aconteceu. A partir da minha nova atitude, da minha nova postura, a graça do Espírito Santo veio ao meu encontro, dando-me a conhecer e perceber coisas que antes eu, no meu "fazer o básico", ignorava. Comecei a me dar conta do quanto cada detalhe contribui para que minha oração, minha comunhão com Deus flua. Hoje posso dizer com toda alegria do meu coração de cristão: Quando me arrumo para ir à Santa Missa, é para Ele que me arrumo. A camisa social, o sapato, o perfume, tudo! Tudo para ir ao encontro do Amado, pois amando-o também nos detalhes, tenho a graça de perceber os detalhes do Seu amor por mim e assim conhecê-lo cada vez mais. Beleza tão antiga e tão nova!

Para que aquele jeito de vestir se tornasse um hábito foi questão de tempo.

Para minha surpresa, fiz experiências espirituais e, por conseguinte, adquiri graças e virtudes que eu nunca imaginara estar ligado a algo tão simples como o pudor e a modéstia. Lembro que a percepção de que meu espírito e minha oração estavam diferentes não demorou muito a aparecer. Passei a me sentir (e de fato estava) adequado àquele acontecimento tão importante do qual antes eu não pude olhar com mais zelo devido a falta de atenção a grandiosidade do que ali se passava. Me sentindo adequado ao ambiente, ao contexto, eu tinha mais vontade de permanecer na Igreja, chegar um tempo antes e ficar um pouco mais depois, contemplando em espírito, a singularidade daquele momento em que estava ali.

Com o tempo percebi que certas virtudes estavam anos a minha espera (os anos da minha caminhada na Igreja) e que, pelas palavras inspiradas de um amigo sacerdote, puderam ser resgatadas ainda na flor da juventude. Hoje minha devoção, atenção, comunhão e zelo são incomparavelmente maiores do que quando me vestia apenas como um católico comum. Hoje, subo ao calvário ainda mais preparado (apesar de minhas misérias), sabendo que no simples que compete a mim, a começar pela roupa, ofereço o melhor que tenho Àquele que deu tudo por mim.


Caio C. Pereira
(Osasco/SP)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Página no Facebook... Aleluia!

Amadas,

Sim, eu finalmente criei uma página no facebook! aeeee rsrs

Me ajudem a divulgar? E claro, contribuam com fotos, vídeos, perguntas, comentários... Preciso de ajuda, ando sem tempo para estas coisas, aceito voluntárias!! 



Deus abençoe!

www.facebook.com/servindoporamor

Até mais, lindas!

Beijos
Carina Caetano



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Reflexão Cor 11,1-16 – Exegese sobre o texto bíblico sobre o uso do véu


Reflexão Cor 11,1-16 – Exegese sobre o texto bíblico sobre o uso do véu
Por Donald P. Goodman III – Tradução do inglês por Carina Caetano

1Sede meus imitadores, como também eu de Cristo. 2E louvo-vos, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim, e retendes os preceitos como vo-los entreguei. 3Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo.
4Todo o homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça. 5Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada. 6Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu. 7O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem. 8Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. 9Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem. 10Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos. 11Todavia, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor. 12Porque, como a mulher provém do homem, assim também o homem provém da mulher, mas tudo vem de Deus. 13Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta? 14Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido?  15Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu. 16Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus. (Cor 11,1-16)

O que segue é uma simples exegese/reflexão do texto. Simples porque a exegese mais complexa seria feita com a reflexão total do texto em um artigo. Por agora, gostaria de fazer uma interpretação do texto, utilizando das palavras de São Paulo e dando às palavras o seu real significado. Essencialmente, São Paulo está dizendo que o véu – do latim velare, cobrir – é necessário para mostrar a relação entre o homem, a mulher e Deus.
Essa leitura é inteiramente clara. São Paulo começa explicando que “a cabeça de todo homem é Cristo; e a cabeça da mulher é o homem; e a cabeça de Cristo é Deus.” Aqui ele está desenhando uma analogia clássica, que sempre foi utilizada na história da igreja, particularmente na explicação do sacramento do Matrimônio: que o homem é para a mulher o que Cristo é para a Igreja. A cabeça do homem, São Paulo explica, é Cristo; a cabeça da mulher é o homem. Ele ainda nos dis que o homem “é a imagem e a glória de Deus; mas a mulher é a glória do homem.” Ele ainda observa que “o homem não é da mulher, mas a mulher é do homem”. A analogia de Deus e do homem e do homem e mulher são claras, e definitivamente não são desconhecidas para São Paulo (Cor 11, 3; Cor 11,7-8).
de fato, São Paulo é o mais odiado pelas feministas modernas por causa também da formulação da sua teoria na Epístola aos Efésios. Lá, São Paulo faz a analogia mais explicitamente, mas pode ser facilmente reconhecida como a mesma analogia que refletimos anteriormente: “Que as mulheres sejam submetidas aos seus maridos, assim como ao Senhor: porque o marido é a cabeça da esposa, como Cristo é a cabeça da igreja, Ele é o salvador do corpo. Da mesma maneira que a igreja é submissa a Cristo, que as esposas sejam também para os seus maridos em todas as coisas. Maridos, amai suas esposas, como Cristo amou a Igreja e se entregou a si mesmo por ela.” (Ef 5. 22-25).
As similaridades entre as passagens são claras: o texto do véu e este texto dos Efésios expressam a mesma analogia:
Homem x Mulher em analogias divinas
Homem
Mulher
Deus
Cristo
Cristo
A Igreja
Cristo
Homem
Imagem de Deus
Imagem do homem
Contemplação
Razão prática


St. Perpetua - Early Christian mosaic


São Paulo então utilize esta analogia para justificar seu requerimento que as mulheres cubram suas cabeças. Depois de nos lembrar que “o homem não foi feito para a mulher, mas a mulher para o homem”, ele nos diz que “Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos,”. Pode-se então concluir que este “poder” que ele diz é o véu, mencionado anteriormente; ele argumente que, porque o homem é para a mulher o que Cristo é para a humanidade, uma mulher deve ser velada. Esta é a inevitável leitura do texto, se ele for lido cuidadosamente (Cor 11,9-10).
São Jerônimo traduz esta passagem como “deo debet mulier potestatem habere supra caput” [“portanto a mulher deve vestir (símbolo do homem) o poder que está acima de sua cabeça”]. Vemos que São Jerônimo deu uma tradução literal, e consequentemente não revela completamente seu significado. O grego, de acordo com Liddell e Scott, traduz para “poder” ou “autoridade”.
Este poder, portanto, não é simplesmente um jeito estranho de dizer “cobrir-se”; isso significa, literalmente, poder ou autoridade. A mulher não precisa de algo para se cobrir em sua cabeça, ela precisa de autoridade sobre sua cabeça (“supra caput”). São Paulo está dizendo sobre a autoridade que está sobre a mulher, assim como Deus é a autoridade sobre a humanidade. A mulher, portanto, precisa de “autoridade” sobre sua cabeça; o véu para cobrir representa esta autoridade. São Paulo está configurando o véu como um sinal da submissão da mulher ao homem.
O fruto desta doutrina de submissão e cobrir-se é o simplesmente representada pelo véu cobrindo a mulher, que dá testemunho às maiores verdades do Catolicismo. Ela proclama simplesmente pela sua cabeça coberta que Deus é maior que o homem; que o homem é o líder dentro da humanidade e que a mulher é submissa ao homem. Ela também proclama sua submissão pessoal a Jesus Cristo, ao seu marido, se for casada, e aos seus superiores, se for solteira. Um mero vestuário representa todas essas coisas para um mundo duvidoso. A mulher é privilegiada para ser capaz de usar um véu.
Essa analogia de Cristo e a humanidade assim como para o homem com a mulher também estende ao relacionamento de Deus com sua Igreja. Isto é, o homem é para a mulher, assim como Cristo é para a Igreja, assim como refletido por São Paulo. Então se uma mulher que cobre sua cabeça ela está proclamando a submissão da Igreja à Cristo. Cobrir-se simboliza a submissão universal a Cristo Jesus. Além disso, por uma extremidade, a mulher anuncia a analogia, mas por outra, também anuncia o Evangelho.
A mulher coberta está dando testemunho do fato de que ela declara que seu marido a ama, assim como Cristo ama a Sua Igreja, e que Deus cuida amorosamente a humanidade, assim como "também Cristo amou a Igreja e se entregou por ela." - e muito melhor do que - o marido assiste amorosamente sobre ela. Este simples pano sobre a cabeça, quando entendido dessa maneira, é um poderoso testemunho da fé católica; felizes são as mulheres que com tão simples gesto podem proclamar essas verdades nobres!
Na Dormição da Virgem Maria, Nossa Senhora e as mulheres de luto são retratados com as coberturas de cabeça tradicionais

São Paulo ilustra essa verdade fazendo referência a costumes relativos ao cabelo. Ele argumenta que os homens que têm o cabelo curto é o mesmo que lhes manter suas cabeças descobertas, que simboliza a sua autoridade sobre a mulher e da autoridade de Cristo sobre a Igreja. Da mesma forma, as mulheres que têm cabelo comprido é o mesmo que lhes manter suas cabeças cobertas, que simboliza a sua submissão ao homem, e a submissão da Igreja a Cristo. Embora isso possa parecer um costume local, São Paulo pede e ensina aos Coríntios  que o homem, na verdade, se deixar o cabelo crescer será uma desonra. Mas se uma mulher deixar seus cabelos crescerem  é uma glória para ela, pois seu cabelo é dado a ela por uma cobertura. O costume do véu, então, se reflete na natureza. Mulheres com os cabelos longos refletem a natureza da sua beleza externa. E os homens mantendo seus cabelos curtos porque, naturalmente, isso também reflete sua própria autoridade. O véu é como aperfeiçoar simbolismo da natureza. (Cor 11,14-15).


Mas São Paulo não diz que "o cabelo é dado a ela como uma cobertura?" Por que, então, ela precisa usar o véu, quando ela já está coberta? Pela mesma razão que usam anéis de casamento, mesmo que o Sacramento permaneça sem eles. Os homens precisam de sinais artificiais de realidades naturais. Pode-se também perguntar por que o padre usa vestes, quando o simples fato de oferecer a missa é um sinal de sua autoridade. São Paulo exige que as mulheres cubram suas cabeças, além de seus cabelos longos, enquanto "orando e profetizando", dizendo que, se fizerem ao contrário, é como se estivessem carecas. (Cor 11,5).

Se ele estivesse se referindo apenas ao cabelo longo da mulher, depois de orar e profetizar seria uma analogia supérflua. Assim, São Paulo estava definitivamente falando de uma cobertura real sobre a cabeça da mulher para além da cobertura natural, pelo menos enquanto orando e profetizando. Em outras vezes, ao que parece, o cabelo por si só é suficiente símbolo de sua submissão ao marido.

Esta, pelo menos, é o que me parece ser a única interpretação coerente do texto antes de ouvir as palavras da Igreja sobre o assunto. O que a Igreja ensinou sobre essas passagens? A Igreja não tem ensinado infalivelmente nada em relação à sua interpretação. No entanto, muitos grandes pensadores têm abordado estes versos, inclusive Padres e Doutores da Igreja. Vou examinar suas opiniões sobre o seu significado, e só então formar opinião própria.


[As reflexões seguirão com textos e estudos de Doutores da Igreja: São João Crisóstomo, Santo Ambrósio de Milão, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino]

Aguardem, meninas!

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

MENSAGEM DO SANTO PADRE - 1º de Janeiro 2014 :)

MENSAGEM DO SANTO PADRE
FRANCISCO
PARA A CELEBRAÇÃO DO 
XLVII DIA MUNDIAL DA PAZ
1º DE JANEIRO DE 2014



FRATERNIDADE, FUNDAMENTO E CAMINHO PARA A PAZ
1. Nesta minha primeira Mensagem para o Dia Mundial da Paz, desejo formular a todos, indivíduos e povos, votos duma vida repleta de alegria e esperança. Com efeito, no coração de cada homem e mulher, habita o anseio duma vida plena que contém uma aspiração irreprimível de fraternidade, impelindo à comunhão com os outros, em quem não encontramos inimigos ou concorrentes, mas irmãos que devemos acolher e abraçar.
Na realidade, a fraternidade é uma dimensão essencial do homem, sendo ele um ser relacional. A consciência viva desta dimensão relacional leva-nos a ver e tratar cada pessoa como uma verdadeira irmã e um verdadeiro irmão; sem tal consciência, torna-se impossível a construção duma sociedade justa, duma paz firme e duradoura. E convém desde já lembrar que a fraternidade se começa a aprender habitualmente no seio da família, graças sobretudo às funções responsáveis e complementares de todos os seus membros, mormente do pai e da mãe. A família é a fonte de toda a fraternidade, sendo por isso mesmo também o fundamento e o caminho primário para a paz, já que, por vocação, deveria contagiar o mundo com o seu amor.
O número sempre crescente de ligações e comunicações que envolvem o nosso planeta torna mais palpável a consciência da unidade e partilha dum destino comum entre as nações da terra. Assim, nos dinamismos da história – independentemente da diversidade das etnias, das sociedades e das culturas –, vemos semeada a vocação a formar uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros. Contudo, ainda hoje, esta vocação é muitas vezes contrastada e negada nos factos, num mundo caracterizado pela «globalização da indiferença» que lentamente nos faz «habituar» ao sofrimento alheio, fechando-nos em nós mesmos.
Em muitas partes do mundo, parece não conhecer tréguas a grave lesão dos direitos humanos fundamentais, sobretudo dos direitos à vida e à liberdade de religião. Exemplo preocupante disso mesmo é o dramático fenómeno do tráfico de seres humanos, sobre cuja vida e desespero especulam pessoas sem escrúpulos. Às guerras feitas de confrontos armados juntam-se guerras menos visíveis, mas não menos cruéis, que se combatem nos campos económico e financeiro com meios igualmente demolidores de vidas, de famílias, de empresas.
A globalização, como afirmou Bento XVI, torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos.[1] As inúmeras situações de desigualdade, pobreza e injustiça indicam não só uma profunda carência de fraternidade, mas também a ausência duma cultura de solidariedade. As novas ideologias, caracterizadas por generalizado individualismo, egocentrismo e consumismo materialista, debilitam os laços sociais, alimentando aquela mentalidade do «descartável» que induz ao desprezo e abandono dos mais fracos, daqueles que são considerados «inúteis». Assim, a convivência humana assemelha-se sempre mais a um mero do ut des pragmático e egoísta.
Ao mesmo tempo, resulta claramente que as próprias éticas contemporâneas se mostram incapazes de produzir autênticos vínculos de fraternidade, porque uma fraternidade privada da referência a um Pai comum como seu fundamento último não consegue subsistir.[2] Uma verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige uma paternidade transcendente. A partir do reconhecimento desta paternidade, consolida-se a fraternidade entre os homens, ou seja, aquele fazer-se «próximo» para cuidar do outro.
«Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9)
2. Para compreender melhor esta vocação do homem à fraternidade e para reconhecer de forma mais adequada os obstáculos que se interpõem à sua realização e identificar as vias para a superação dos mesmos, é fundamental deixar-se guiar pelo conhecimento do desígnio de Deus, tal como se apresenta de forma egrégia na Sagrada Escritura.
Segundo a narração das origens, todos os homens provêm dos mesmos pais, de Adão e Eva, casal criado por Deus à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 26), do qual nascem Caim e Abel. Na história desta família primigénia, lemos a origem da sociedade, a evolução das relações entre as pessoas e os povos.
Abel é pastor, Caim agricultor. A sua identidade profunda e, conjuntamente, a sua vocação é ser irmãos, embora na diversidade da sua actividade e cultura, da sua maneira de se relacionarem com Deus e com a criação. Mas o assassinato de Abel por Caim atesta, tragicamente, a rejeição radical da vocação a ser irmãos. A sua história (cf. Gn4, 1-16) põe em evidência o difícil dever, a que todos os homens são chamados, de viver juntos, cuidando uns dos outros. Caim, não aceitando a predilecção de Deus por Abel, que Lhe oferecia o melhor do seu rebanho – «o Senhor olhou com agrado para Abel e para a sua oferta, mas não olhou com agrado para Caim nem para a sua oferta» (Gn4, 4-5) –, mata Abel por inveja. Desta forma, recusa reconhecer-se irmão, relacionar-se positivamente com ele, viver diante de Deus, assumindo as suas responsabilidades de cuidar e proteger o outro. À pergunta com que Deus interpela Caim – «onde está o teu irmão?» –, pedindo-lhe contas da sua acção, responde: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?» (Gn 4, 9). Depois – diz-nos o livro do Génesis –, «Caim afastou-se da presença do Senhor» (4, 16).
É preciso interrogar-se sobre os motivos profundos que induziram Caim a ignorar o vínculo de fraternidade e, simultaneamente, o vínculo de reciprocidade e comunhão que o ligavam ao seu irmão Abel. O próprio Deus denuncia e censura a Caim a sua contiguidade com o mal: «o pecado deitar-se-á à tua porta» (Gn 4, 7). Mas Caim recusa opor-se ao mal, e decide igualmente «lançar-se sobre o irmão» (Gn 4, 8), desprezando o projecto de Deus. Deste modo, frustra a sua vocação original para ser filho de Deus e viver a fraternidade.
A narração de Caim e Abel ensina que a humanidade traz inscrita em si mesma uma vocação à fraternidade, mas também a possibilidade dramática da sua traição. Disso mesmo dá testemunho o egoísmo diário, que está na base de muitas guerras e injustiças: na realidade, muitos homens e mulheres morrem pela mão de irmãos e irmãs que não sabem reconhecer-se como tais, isto é, como seres feitos para a reciprocidade, a comunhão e a doação.
«E vós sois todos irmãos» (Mt 23, 8)
3. Surge espontaneamente a pergunta: poderão um dia os homens e as mulheres deste mundo corresponder plenamente ao anseio de fraternidade, gravado neles por Deus Pai? Conseguirão, meramente com as suas forças, vencer a indiferença, o egoísmo e o ódio, aceitar as legítimas diferenças que caracterizam os irmãos e as irmãs?
Parafraseando as palavras do Senhor Jesus, poderemos sintetizar assim a resposta que Ele nos dá: dado que há um só Pai, que é Deus, vós sois todos irmãos (cf. Mt 23, 8-9). A raiz da fraternidade está contida na paternidade de Deus. Não se trata de uma paternidade genérica, indistinta e historicamente ineficaz, mas do amor pessoal, solícito e extraordinariamente concreto de Deus por cada um dos homens (cf. Mt 6, 25-30). Trata-se, por conseguinte, de uma paternidade eficazmente geradora de fraternidade, porque o amor de Deus, quando é acolhido, torna-se no mais admirável agente de transformação da vida e das relações com o outro, abrindo os seres humanos à solidariedade e à partilha activa.
Em particular, a fraternidade humana foi regenerada em e por Jesus Cristo, com a sua morte e ressurreição. A cruz é o «lugar» definitivo de fundação da fraternidade que os homens, por si sós, não são capazes de gerar. Jesus Cristo, que assumiu a natureza humana para a redimir, amando o Pai até à morte e morte de cruz (cf. Fl 2, 8), por meio da sua ressurreição constitui-nos como humanidade nova, em plena comunhão com a vontade de Deus, com o seu projecto, que inclui a realização plena da vocação à fraternidade.
Jesus retoma o projecto inicial do Pai, reconhecendo-Lhe a primazia sobre todas as coisas. Mas Cristo, com o seu abandono até à morte por amor do Pai, torna-Se princípio novo e definitivo de todos nós, chamados a reconhecer-nos n’Ele como irmãos, porque filhos do mesmo Pai. Ele é a própria Aliança, o espaço pessoal da reconciliação do homem com Deus e dos irmãos entre si. Na morte de Jesus na cruz, ficou superada também a separação entre os povos, entre o povo da Aliança e o povo dos Gentios, privado de esperança porque permanecera até então alheio aos pactos da Promessa. Como se lê na Carta aos Efésios, Jesus Cristo é Aquele que reconcilia em Si todos os homens. Ele é a paz, porque, dos dois povos, fez um só, derrubando o muro de separação que os dividia, ou seja, a inimizade. Criou em Si mesmo um só povo, um só homem novo, uma só humanidade nova (cf. 2,14-16).
Quem aceita a vida de Cristo e vive n’Ele, reconhece Deus como Pai e a Ele Se entrega totalmente, amando-O acima de todas as coisas. O homem reconciliado vê, em Deus, o Pai de todos e, consequentemente, é solicitado a viver uma fraternidade aberta a todos. Em Cristo, o outro é acolhido e amado como filho ou filha de Deus, como irmão ou irmã, e não como um estranho, menos ainda como um antagonista ou até um inimigo. Na família de Deus, onde todos são filhos dum mesmo Pai e, porque enxertados em Cristo, filhos no Filho, não há «vidas descartáveis». Todos gozam de igual e inviolável dignidade; todos são amados por Deus, todos foram resgatados pelo sangue de Cristo, que morreu na cruz e ressuscitou por cada um. Esta é a razão pela qual não se pode ficar indiferente perante a sorte dos irmãos.
A fraternidade, fundamento e caminho para a paz
4. Suposto isto, é fácil compreender que a fraternidade é fundamento e caminho para a paz. As Encíclicas sociais dos meus Predecessores oferecem uma ajuda valiosa neste sentido. Basta ver as definições de paz da Populorum progressio, de Paulo VI, ou da Sollicitudo rei socialis, de João Paulo II. Da primeira, apreendemos que o desenvolvimento integral dos povos é o novo nome da paz[3] e, da segunda, que a paz é opus solidaritatis, fruto da solidariedade.[4]
Paulo VI afirma que tanto as pessoas como as nações se devem encontrar num espírito de fraternidade. E explica: «Nesta compreensão e amizade mútuas, nesta comunhão sagrada, devemos (...) trabalhar juntos para construir o futuro comum da humanidade».[5] Este dever recai primariamente sobre os mais favorecidos. As suas obrigações radicam-se na fraternidade humana e sobrenatural, apresentando-se sob um tríplice aspecto: o dever de solidariedade, que exige que as nações ricas ajudem as menos avançadas; o dever de justiça social, que requer a reformulação em termos mais correctos das relações defeituosas entre povos fortes e povos fracos; o dever de caridade universal, que implica a promoção de um mundo mais humano para todos, um mundo onde todos tenham qualquer coisa a dar e a receber, sem que o progresso de uns seja obstáculo ao desenvolvimento dos outros.[6]
Ora, da mesma forma que se considera a paz como opus solidarietatis, é impossível não pensar que o seu fundamento principal seja a fraternidade. A paz, afirma João Paulo II, é um bem indivisível: ou é bem de todos, ou não o é de ninguém. Na realidade, a paz só pode ser conquistada e usufruída como melhor qualidade de vida e como desenvolvimento mais humano e sustentável, se estiver viva, em todos, «a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum».[7] Isto implica não deixar-se guiar pela «avidez do lucro» e pela «sede do poder». É preciso estar pronto a «“perder-se” em benefício do próximo em vez de o explorar, e a “servi-lo” em vez de o oprimir para proveito próprio (...). O “outro” – pessoa, povo ou nação – [não deve ser visto] como um instrumento qualquer, de que se explora, a baixo preço, a capacidade de trabalhar e a resistência física, para o abandonar quando já não serve; mas sim como um nosso “semelhante”, um “auxílio”».[8]
solidariedade cristã pressupõe que o próximo seja amado não só como «um ser humano com os seus direitos e a sua igualdade fundamental em relação a todos os demais, mas [como] a imagem viva de Deus Pai, resgatada pelo sangue de Jesus Cristo e tornada objecto da acção permanente do Espírito Santo»,[9] como um irmão. «Então a consciência da paternidade comum de Deus, da fraternidade de todos os homens em Cristo, “filhos no Filho”, e da presença e da acção vivificante do Espírito Santo conferirá – lembra João Paulo II – ao nosso olhar sobre o mundo como que um novo critério para o interpretar»,[10] para o transformar.
A fraternidade, premissa para vencer a pobreza
5. Na Caritas in veritate, o meu Predecessor lembrava ao mundo que uma causa importante da pobreza é a falta defraternidade entre os povos e entre os homens.[11] Em muitas sociedades, sentimos uma profunda pobreza relacional, devido à carência de sólidas relações familiares e comunitárias; assistimos, preocupados, ao crescimento de diferentes tipos de carências, marginalização, solidão e de várias formas de dependência patológica. Uma tal pobreza só pode ser superada através da redescoberta e valorização de relações fraternas no seio das famílias e das comunidades, através da partilha das alegrias e tristezas, das dificuldades e sucessos presentes na vida das pessoas.
Além disso, se por um lado se verifica uma redução da pobreza absoluta, por outro não podemos deixar de reconhecer um grave aumento da pobreza relativa, isto é, de desigualdades entre pessoas e grupos que convivem numa região específica ou num determinado contexto histórico-cultural. Neste sentido, servem políticas eficazes que promovam o princípio da fraternidade, garantindo às pessoas – iguais na sua dignidade e nos seus direitos fundamentais – acesso aos «capitais», aos serviços, aos recursos educativos, sanitários e tecnológicos, para que cada uma delas tenha oportunidade de exprimir e realizar o seu projecto de vida e possa desenvolver-se plenamente como pessoa.
Reconhece-se haver necessidade também de políticas que sirvam para atenuar a excessiva desigualdade de rendimento. Não devemos esquecer o ensinamento da Igreja sobre a chamada hipoteca social, segundo a qual, se é lícito – como diz São Tomás de Aquino – e mesmo necessário que «o homem tenha a propriedade dos bens»,[12]quanto ao uso, porém, «não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si mas também aos outros».[13]
Por último, há uma forma de promover a fraternidade – e, assim, vencer a pobreza – que deve estar na base de todas as outras. É o desapego vivido por quem escolhe estilos de vida sóbrios e essenciais, por quem, partilhando as suas riquezas, consegue assim experimentar a comunhão fraterna com os outros. Isto é fundamental, para seguir Jesus Cristo e ser verdadeiramente cristão. É o caso não só das pessoas consagradas que professam voto de pobreza, mas também de muitas famílias e tantos cidadãos responsáveis que acreditam firmemente que a relação fraterna com o próximo constitua o bem mais precioso.
A redescoberta da fraternidade na economia
6. As graves crises financeiras e económicas dos nossos dias – que têm a sua origem no progressivo afastamento do homem de Deus e do próximo, com a ambição desmedida de bens materiais, por um lado, e o empobrecimento das relações interpessoais e comunitárias, por outro – impeliram muitas pessoas a buscar o bem-estar, a felicidade e a segurança no consumo e no lucro fora de toda a lógica duma economia saudável. Já, em 1979, o Papa João Paulo IIalertava para a existência de «um real e perceptível perigo de que, enquanto progride enormemente o domínio do homem sobre o mundo das coisas, ele perca os fios essenciais deste seu domínio e, de diversas maneiras, submeta a elas a sua humanidade, e ele próprio se torne objecto de multiforme manipulação, se bem que muitas vezes não directamente perceptível; manipulação através de toda a organização da vida comunitária, mediante o sistema de produção e por meio de pressões dos meios de comunicação social».[14]
As sucessivas crises económicas devem levar a repensar adequadamente os modelos de desenvolvimento económico e a mudar os estilos de vida. A crise actual, com pesadas consequências na vida das pessoas, pode ser também uma ocasião propícia para recuperar as virtudes da prudência, temperança, justiça e fortaleza. Elas podem ajudar-nos a superar os momentos difíceis e a redescobrir os laços fraternos que nos unem uns aos outros, com a confiança profunda de que o homem tem necessidade e é capaz de algo mais do que a maximização do próprio lucro individual. As referidas virtudes são necessárias sobretudo para construir e manter uma sociedade à medida da dignidade humana.
A fraternidade extingue a guerra
7. Ao longo do ano que termina, muitos irmãos e irmãs nossos continuaram a viver a experiência dilacerante da guerra, que constitui uma grave e profunda ferida infligida à fraternidade.
Há muitos conflitos que se consumam na indiferença geral. A todos aqueles que vivem em terras onde as armas impõem terror e destruição, asseguro a minha solidariedade pessoal e a de toda a Igreja. Esta última tem por missão levar o amor de Cristo também às vítimas indefesas das guerras esquecidas, através da oração pela paz, do serviço aos feridos, aos famintos, aos refugiados, aos deslocados e a quantos vivem no terror. De igual modo a Igreja levanta a sua voz para fazer chegar aos responsáveis o grito de dor desta humanidade atribulada e fazer cessar, juntamente com as hostilidades, todo o abuso e violação dos direitos fundamentais do homem.[15]
Por este motivo, desejo dirigir um forte apelo a quantos semeiam violência e morte, com as armas: naquele que hoje considerais apenas um inimigo a abater, redescobri o vosso irmão e detende a vossa mão! Renunciai à via das armas e ide ao encontro do outro com o diálogo, o perdão e a reconciliação para reconstruir a justiça, a confiança e esperança ao vosso redor! «Nesta óptica, torna-se claro que, na vida dos povos, os conflitos armados constituem sempre a deliberada negação de qualquer concórdia internacional possível, originando divisões profundas e dilacerantes feridas que necessitam de muitos anos para se curarem. As guerras constituem a rejeição prática de se comprometer para alcançar aquelas grandes metas económicas e sociais que a comunidade internacional estabeleceu».[16]
Mas, enquanto houver em circulação uma quantidade tão grande como a actual de armamentos, poder-se-á sempre encontrar novos pretextos para iniciar as hostilidades. Por isso, faço meu o apelo lançado pelos meus Predecessores a favor da não-proliferação das armas e do desarmamento por parte de todos, a começar pelo desarmamento nuclear e químico.
Não podemos, porém, deixar de constatar que os acordos internacionais e as leis nacionais, embora sendo necessários e altamente desejáveis, por si sós não bastam para preservar a humanidade do risco de conflitos armados. É precisa uma conversão do coração que permita a cada um reconhecer no outro um irmão do qual cuidar e com o qual trabalhar para, juntos, construírem uma vida em plenitude para todos. Este é o espírito que anima muitas das iniciativas da sociedade civil, incluindo as organizações religiosas, a favor da paz. Espero que o compromisso diário de todos continue a dar fruto e que se possa chegar também à efectiva aplicação, no direito internacional, do direito à paz como direito humano fundamental, pressuposto necessário para o exercício de todos os outros direitos.
A corrupção e o crime organizado contrastam a fraternidade
8. O horizonte da fraternidade apela ao crescimento em plenitude de todo o homem e mulher. As justas ambições duma pessoa, sobretudo se jovem, não devem ser frustradas nem lesadas; não se lhe deve roubar a esperança de podê-las realizar. A ambição, porém, não deve ser confundida com prevaricação; pelo contrário, é necessário competir na mútua estima (cf. Rm 12, 10). Mesmo nas disputas, que constituem um aspecto inevitável da vida, é preciso recordar-se sempre de que somos irmãos; por isso, é necessário educar e educar-se para não considerar o próximo como um inimigo nem um adversário a eliminar.
A fraternidade gera paz social, porque cria um equilíbrio entre liberdade e justiça, entre responsabilidade pessoal e solidariedade, entre bem dos indivíduos e bem comum. Uma comunidade política deve, portanto, agir de forma transparente e responsável para favorecer tudo isto. Os cidadãos devem sentir-se representados pelos poderes públicos, no respeito da sua liberdade. Em vez disso, muitas vezes, entre cidadão e instituições, interpõem-se interesses partidários que deformam essa relação, favorecendo a criação dum clima perene de conflito.
Um autêntico espírito de fraternidade vence o egoísmo individual, que contrasta a possibilidade das pessoas viverem em liberdade e harmonia entre si. Tal egoísmo desenvolve-se, socialmente, quer nas muitas formas de corrupção que hoje se difunde de maneira capilar, quer na formação de organizações criminosas – desde os pequenos grupos até àqueles organizados à escala global – que, minando profundamente a legalidade e a justiça, ferem no coração a dignidade da pessoa. Estas organizações ofendem gravemente a Deus, prejudicam os irmãos e lesam a criação, revestindo-se duma gravidade ainda maior se têm conotações religiosas.
Penso no drama dilacerante da droga com a qual se lucra desafiando leis morais e civis, na devastação dos recursos naturais e na poluição em curso, na tragédia da exploração do trabalho; penso nos tráficos ilícitos de dinheiro como também na especulação financeira que, muitas vezes, assume caracteres predadores e nocivos para inteiros sistemas económicos e sociais, lançando na pobreza milhões de homens e mulheres; penso na prostituição que diariamente ceifa vítimas inocentes, sobretudo entre os mais jovens, roubando-lhes o futuro; penso no abomínio do tráfico de seres humanos, nos crimes e abusos contra menores, na escravidão que ainda espalha o seu horror em muitas partes do mundo, na tragédia frequentemente ignorada dos emigrantes sobre quem se especula indignamente na ilegalidade. A este respeito escreveu João XXIII: «Uma convivência baseada unicamente em relações de força nada tem de humano: nela vêem as pessoas coarctada a própria liberdade, quando, pelo contrário, deveriam ser postas em condição tal que se sentissem estimuladas a procurar o próprio desenvolvimento e aperfeiçoamento».[17]Mas o homem pode converter-se, e não se deve jamais desesperar da possibilidade de mudar de vida. Gostaria que isto fosse uma mensagem de confiança para todos, mesmo para aqueles que cometeram crimes hediondos, porque Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (cf. Ez 18, 23).
No contexto alargado da sociabilidade humana, considerando o delito e a pena, penso também nas condições desumanas de muitos estabelecimentos prisionais, onde frequentemente o preso acaba reduzido a um estado sub-humano, violado na sua dignidade de homem e sufocado também em toda a vontade e expressão de resgate. A Igreja faz muito em todas estas áreas, a maior parte das vezes sem rumor. Exorto e encorajo a fazer ainda mais, na esperança de que tais acções desencadeadas por tantos homens e mulheres corajosos possam cada vez mais ser sustentadas, leal e honestamente, também pelos poderes civis.
A fraternidade ajuda a guardar e cultivar a natureza
9. A família humana recebeu, do Criador, um dom em comum: a natureza. A visão cristã da criação apresenta um juízo positivo sobre a licitude das intervenções na natureza para dela tirar benefício, contanto que se actue responsavelmente, isto é, reconhecendo aquela «gramática» que está inscrita nela e utilizando, com sabedoria, os recursos para proveito de todos, respeitando a beleza, a finalidade e a utilidade dos diferentes seres vivos e a sua função no ecossistema. Em suma, a natureza está à nossa disposição, mas somos chamados a administrá-la responsavelmente. Em vez disso, muitas vezes deixamo-nos guiar pela ganância, pela soberba de dominar, possuir, manipular, desfrutar; não guardamos a natureza, não a respeitamos, nem a consideramos como um dom gratuito de que devemos cuidar e colocar ao serviço dos irmãos, incluindo as gerações futuras.
De modo particular o sector produtivo primário, o sector agrícola, tem a vocação vital de cultivar e guardar os recursos naturais para alimentar a humanidade. A propósito, a persistente vergonha da fome no mundo leva-me a partilhar convosco esta pergunta: De que modo usamos os recursos da terra? As sociedades actuais devem reflectir sobre a hierarquia das prioridades no destino da produção. De facto, é um dever impelente que se utilizem de tal modo os recursos da terra, que todos se vejam livres da fome. As iniciativas e as soluções possíveis são muitas, e não se limitam ao aumento da produção. É mais que sabido que a produção actual é suficiente, e todavia há milhões de pessoas que sofrem e morrem de fome, o que constitui um verdadeiro escândalo. Por isso, é necessário encontrar o modo para que todos possam beneficiar dos frutos da terra, não só para evitar que se alargue o fosso entre aqueles que têm mais e os que devem contentar-se com as migalhas, mas também e sobretudo por uma exigência de justiça e equidade e de respeito por cada ser humano. Neste sentido, gostaria de lembrar a todos o necessáriodestino universal dos bens, que é um dos princípios fulcrais da doutrina social da Igreja. O respeito deste princípio é a condição essencial para permitir um acesso real e equitativo aos bens essenciais e primários de que todo o homem precisa e tem direito.
Conclusão
10. Há necessidade que a fraternidade seja descoberta, amada, experimentada, anunciada e testemunhada; mas só o amor dado por Deus é que nos permite acolher e viver plenamente a fraternidade.
O necessário realismo da política e da economia não pode reduzir-se a um tecnicismo sem ideal, que ignora a dimensão transcendente do homem. Quando falta esta abertura a Deus, toda a actividade humana se torna mais pobre, e as pessoas são reduzidas a objecto passível de exploração. Somente se a política e a economia aceitarem mover-se no amplo espaço assegurado por esta abertura Àquele que ama todo o homem e mulher, é que conseguirão estruturar-se com base num verdadeiro espírito de caridade fraterna e poderão ser instrumento eficaz de desenvolvimento humano integral e de paz.
Nós, cristãos, acreditamos que, na Igreja, somos membros uns dos outros e todos mutuamente necessários, porque a cada um de nós foi dada uma graça, segundo a medida do dom de Cristo, para utilidade comum (cf. Ef 4, 7.25; 1 Cor 12, 7). Cristo veio ao mundo para nos trazer a graça divina, isto é, a possibilidade de participar na sua vida. Isto implica tecer um relacionamento fraterno, caracterizado pela reciprocidade, o perdão, o dom total de si mesmo, segundo a grandeza e a profundidade do amor de Deus, oferecido à humanidade por Aquele que, crucificado e ressuscitado, atrai todos a Si: «Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 34-35). Esta é a boa nova que requer, de cada um, um passo mais, um exercício perene de empatia, de escuta do sofrimento e da esperança do outro, mesmo do que está mais distante de mim, encaminhando-se pela estrada exigente daquele amor que sabe doar-se e gastar-se gratuitamente pelo bem de cada irmão e irmã.
Cristo abraça todo o ser humano e deseja que ninguém se perca. «Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele» (Jo 3, 17). Fá-lo sem oprimir, sem forçar ninguém a abrir-Lhe as portas do coração e da mente. «O que for maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve – diz Jesus Cristo –. Eu estou no meio de vós como aquele que serve» (Lc 22, 26-27). Deste modo, cada actividade deve ser caracterizada por uma atitude de serviço às pessoas, incluindo as mais distantes e desconhecidas. O serviço é a alma da fraternidade que edifica a paz.
Que Maria, a Mãe de Jesus, nos ajude a compreender e a viver todos os dias a fraternidade que jorra do coração do seu Filho, para levar a paz a todo o homem que vive nesta nossa amada terra.
Vaticano, 8 de Dezembro de 2013.